CHILDREN OF THE GRAVE


Aquela choradeira, lamentos, abraços, pesares. Todo aquele tétrico ritual, além de triste era muito estranho, enfadonho ou chato para o pequeno Carlos de 7 anos. Seu Tio Ladislau havia acabado de morrer de uma misteriosa doença hereditária, e sem ter com quem deixá-lo, a mãe de Carlinhos não teve escolha a não ser levá-lo para aquele sinistro evento. O velório de um velho tio que ele sequer conhecia. E é quando no meio daquela multidão ou ‘pernas’ de toda aquela aglomeração de parentes, surge uma menininha, que acena para Carlinhos, e o mesmo, sem que sua mãe, distraída dando atenção para algum daqueles parentes, o notasse se afastar dela. Carlinhos acompanha aquela simpática garotinha que mesmo sem conhecê-lo, o puxa pela mão levando-o para fora daquela capela. E lá fora, Carlinhos se depara com mais uma outra criança, um menino. – Oba, mais alguém para eu brincar! Ele, a única criança, naquela triste reunião, vibrava em pensamento. A menina se apresenta como Mariazinha e o garoto como José Maria ou ‘Zezinho’. E depois de feitas as devidas apresentações, se dá início a um festival de brincadeiras que transformaria aquele cemitério num verdadeiro ‘playground’ para o pequeno Carlinhos que já não aguentava o tédio daquele velório. Muitas daquelas brincadeiras apesar de divertidas eram bem estranhas para Carlinhos. Eram brincadeiras de piques e outras que envolviam cantigas, que aquela criança acostumada com a ‘prisão’ do seu apartamento e jogos eletrônicos de tecnologia de ponta, jamais ouvira falar. Carlinhos também estranhou o fato daquele casalzinho que pareciam ‘irmãos’ desconhecer o nome daqueles jogos e personagens que eram praticamente do conhecimento de toda criança moderna. Mas o mesmo não dera importância, e a brincadeira continuou no meio de todas aquelas cruzes, sepulturas e toda aquela típica e soturna paisagem de um cemitério. Em seu divertimento e inocência infantil, Carlinhos se esquecia completamente de onde estava. Já entardecia e com isso, sua mãe o procurava desesperadamente junto com parentes e até mesmo um coveiro que se solidarizou a busca. E quando finalmente Carlinhos é encontrado, o mesmo estava brincando de ‘pique-esconde’. Estava ‘com ele’, e nisso, ele se mantinha de cara contra a cruz de uma daquelas sepulturas quando sua mãe chorosa e aliviada o puxa pelo braço. Ele diz que só estava brincando com seus amiguinhos, mas não havia ninguém mais ali. Sua mãe o abraça, mas o repreende por ele ter se apartado dela para sair sozinho pelo cemitério, mas Carlinhos insistia que estava brincando com mais dois amiguinhos que ali conhecera. A mãe agradece a todos que a ajudaram a procurar por seu filho, inclusive o coveiro, que demonstrando curiosidade com a história do menino, o mesmo chama a mulher num canto e conta que haviam boatos de que um casal de crianças fantasmas que eles apelidaram de ‘Crianças da Capela’. As mesmas também enterradas ali, haviam morrido junto com a família num grave acidente, e quando ‘cismavam’ saíam de seus túmulos para brincar e pregar peças tanto nos funcionários quanto nas pessoas que ali enterravam o visitavam seus entes queridos. A mãe de Carlinhos se assusta com tal história e para não assustar ou impressionar o filho, ela resolve não lhe contar tal coisa. Mas com o passar do tempo, Carlinhos já mais velho, ao tocar no assunto, finalmente sabe verdade, este ‘junta as coisas’, ao se lembrar de como a mão daquela menininha era tão fria, e o ‘porque’ daquela horrenda cicatriz que ela tinha no braço e que em sua inocência, a mesma dizia que era um ‘dodói’. Jovem, Carlinhos se torna um belo rapaz apesar de demonstrar sintomas da tal doença que levou seu tio Ladislau a morte. Mas ao se curar totalmente desse mal, o mesmo segue com sua vida normal de jovem, sendo amante de farras, noitadas e muita adrenalina. Com o carro que ganhou do pai, mesmo com os insistentes apelos da mãe, o jovem vivia a mil por hora por estas estradas. E como todo o jovem que não ouve os conselhos de mãe, o inevitável acontece. Carlinhos se envolve num terrível acidente ao voltar de uma festa com os amigos. Seu carro estava lotado, e somente ele sobreviveu, porém em um longo estado de coma entrevado num leito de hospital. Não só sua mãe, mas todos aqueles mesmos familiares se mostravam tristes e angustiados com o estado vegetativo daquele belo rapaz. O mesmo pouco reagia, e em toda aquela angústia sua única reação era de espasmos aparentemente dolorosos devido às várias e perturbadoras alucinações que o mesmo tinha naquele estado. E numa dessas visões, o convalescente Carlinhos se depara com ninguém menos do que o ‘Ceifeiro Sinistro’, ou seja a própria figura da morte, com a face oculta sob seu negro capuz, e sua grande foice sobre o ombro. E com isso, mesmo que agonizante, Carlinhos tem fortes reações, as ondas em seu desfibrilador se distorcem com cada batimento acelerado de seu coração. Aquela figura sinistra com sua mão esquelética estendida já se aproximava para tocá-lo quando, do nada, uma enfermeira surge o impedindo e estranhamente lhe dizendo: - Não...ele ainda não...! – Só mais uma chance...! O misterioso ceifeiro, contrariado, desaparece dali. Deixando Carlinhos e a tal enfermeira, que lhe sorri e em seguida também sai daquele quarto. Pouco depois, milagrosamente, Carlinhos se recupera e volta ao normal para a alegria de todos. Mas um mistério ainda o intrigava. Quem seria a tal enfermeira, que lhe lembrava muito alguém. Tinha o mesmo sorriso, nome(Maria do Socorro) que ele leu na plaquinha e até aquela mesma cicatriz no braço. Ele chegou a procurar, mas no hospital todos os funcionários eram categóricos ao afirmar nunca ter trabalhado uma enfermeira com tal nome ali.

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