ERA UMA VEZ UM PESCADOR...

José Ulisses, morador de uma comunidade caiçara do Sul do Rio de Janeiro, era pescador. E como tal, um grande contador de histórias, ou 'proezas' das quais muitas eram 'até verossímeis', e outras 'nem tanto', já que como a fama de todo pescador, algumas coisinhas acabavam sendo 'aumentadas' aqui e ali em seus 'causos'! E nisso, 'Licim' ou 'Seu Licim', como era conhecido na comunidade. Entre uma 'branquinha' e outra naquele boteco que frequentava com os amigos, acabava não escapando da gozação dos mesmos, que não o 'perdoavam', e assim o tachavam de ser o maior contador de lorotas da região. Mas de todas aquelas histórias ou 'lorotas', uma delas, era a que ele mais gostava de contar. E contava não só para seus amigos de pesca, ou 'de copo', mas também para qualquer um que adentrasse aquele barzinho à beira mar; inclusive os turistas de quem passava a ser uma 'atração a parte' com suas histórias. E tal fato ocorrera quando Licim ainda estava passando da fase de criança para a adolescência, e quando ainda nem sonhava em ser pescador, morando numa outra cidade, onde costumava a passear com a família numa praia bem erma e mais afastada dos grandes centros do que a que ele vive hoje. E lá, o ainda bem jovem Licim, entre um 'tchibum' e outro naquelas águas calmas com os irmãos, também costumava caminhar sem direção pela orla, deixando que a maré molhasse aquelas suas canelinhas finas. E pelo caminho, chutando aquelas pequenas ondas e catando algumas conchinhas que encontrava, o mesmo tem a sua atenção voltada para um lindo canto entoado por uma voz feminina, e que vinha de uma jovem que se encontrava mais à frente, sentada de costas para ele à beira da praia e numa parte já bem mais afastada de onde seus familiares estavam. E aquele canto, aquela música que ele não sabia identificar. Parecia hipnotizante. O garoto não só ouvia com os seus ouvidos, mas aquele som, também parecia invadir a sua mente, de tão encantador. E fascinado, porém dando pequenos passos, o jovem Licim se aproxima. E assim que a misteriosa jovem se vira, o encanto do moleque, passa a se somar com um certo espanto, pois a beleza daquela criatura era algo até mesmo indescritível. Ela não só não se parecia com mulher nenhuma daquela região, ou mesmo do país, mas era algo 'fora do comum'. A tal linda jovem parecia de 'outro mundo' de tão bela. E aquele já totalmente hipnotizado, Licim, se agacha bem perto da jovem. Que também além de linda se mostrava muito meiga e simpática; e ali os dois então começavam a papear. Licim, que sempre fora tímido, naquela hora perdera totalmente a sua timidez, e além de bem falante ou 'prosador', chegava até a mexer nos longos cabelos daquela criatura, que lhe correspondia o afeto com o mais meigo sorriso e algumas carícias também. E até que com toda aquela conversa('sobre nada'), o tempo acabara passando, e já se aproximava do pôr-do-sol quando a tal jovem lançou sobre o pequeno Licim o 'desafio' de o mesmo a acompanhar nadando até o meio do mar. E praticamente 'enfeitiçado', o garoto aceitou tal perigoso desafio, e começou a seguir a misteriosa mulher até a água. E quando Licim já se preparava para dar o mergulho, do nada sua mãe surge e o puxa pelo braço, dando-lhe broncas o carregando de volta ao ponto daquela praia onde o restante da família estava. A sua mãe além de iracunda com  o fato do garoto se afastar deles, também ouvira relatos de que crianças e até adultos(principalmente do sexo masculino) misteriosamente desapareciam naquela praia mesmo ela sendo tão calma. Licim seguia aos protestos e birras comuns àquela idade, mas também por estar apaixonado por aquela mulher misteriosa que sumia no mar. E enquanto era puxado por sua mãe, ao olhar para trás, no ponto exato onde a garota mergulhava, ele além de avistá-la nadando, também notara o que parecia ser uma longa 'cauda' de peixe que emergia por de trás da garota, dando a parecer que estava 'no lugar de suas pernas' enquanto a mesma mergulhava. Aquilo o espantou, e até os dias atuais ele ainda falava sobre isso, mas sem dar explicação e sem sequer saber até hoje o nome da tal misteriosa garota da praia. E dentre um copo e outro, os olhos do hoje solteirão 'Seu Licim', brilhavam toda vez que ele contava essa história, que é claro ninguém acreditava, e muitas das vezes já o mandavam ir embora daquele bar, achando que fosse 'efeito da bebida'. E após uma dessas noites de bebedeira, Seu Licim resolvera sair para pescar(ele que nunca teve o hábito de pescar à noite), e desde então nunca mais foi visto na região. Dizem que o mesmo costumava voltar naquela praia da sua infância, e que talvez possa ter sumido ao cair bêbado de seu barquinho por lá! Se dizia também que ele havia se tornado pescador na esperança de um dia reencontrar a sua sereia! E então, quem sabe ele possa ter sido levado por ela e aquele lindo canto que nunca saíra de sua mente?

Comentários