O MOTOQUEIRO FANTASMA E A MULA SEM CABEÇA

Fré, o motoqueiro aventureiro, retornava de mais uma de suas viagens pelo sertão do país. E em cada paragem, ouvia histórias e mais histórias que o acompanhava e que encantava ou impressionava tanto o próprio quanto as pessoas com quem ele compartilhasse. E foi numa dessas noites sem lua, do início de uma Quaresma, que passando por um desses tantos rincões, que o motoqueiro aventureiro se viu protagonizar ou participar de algo digno da imaginação prodigiosa(ou não) do maior contador de causos que existir por esses confins. Já era tarde da noite quando ele, mesmo alertado pelos locais para não pegar aquelas estradas durante uma noite sem lua, resolvera seguir viagem. Ele como todo 'urbanoide' ou pessoa 'vinda de fora', se esforçava em seu ceticismo, mas ao mesmo tempo, algumas histórias ou causos de assombração que ouvira naquela pousada, ainda ecoavam em sua mente. Já se aproximava das três da madrugada, a estrada era erma, de chão batido e bem 'acidentada', porém não era um grande desafio para a sua Honda CG 2018 com um desenho do Motoqueiro Fantasma no tanque de gasolina. E tendo somente o ronco de sua Honda como companhia, Fré seguia por aquela estrada toda deserta escura, até que num certo ponto, o mesmo começa a ter a sensação de estar sendo seguido. Ele não sabia identificar qual era o 'veículo', seu porte, mas pôde notar que de 'tal coisa' emanava uma luz muito mais forte do que a de um farol de carro e até mesmo, de 'um caminhão'. Ele chega a imaginar - que seja o que fosse - estivesse querendo passagem. Mas ao tentar dar passagem, o já apavorado, Fré nota que também não era isso, e que 'aquilo' preferia mesmo era se manter seguindo sua motocicleta. Seu retrovisor não o permitia identificar o 'veículo', e seu medo também não o deixava olhar para trás. E tal veículo, ser, animal ou 'coisa', já estava bem perto de sua moto mesmo com todas as 'cilindradas' de que ela era capaz. Aquilo não era um veículo, mas como um 'animal', seja lá de qual porte, poderia atingir uma velocidade daquela? E conforme a criatura se aproximava, a luz e o calor também aumentavam. Parecia que Fré era perseguido por uma imensa 'bola de fogo'. E aqueles 'relinchos' altos e assustadores?! Será que aquilo era o que ele estava pensando...? Uma coisa de causo de interior, história da vovó, 'livro didático de escola'...?! Fré com o seu coração batendo mais acelerado do que o motor de sua Honda, naquele momento já não sabia o que pensar, e só queria era fugir da criatura. E é quando algo que pareceu se desprendeu do bicho, com toda aquela inquietude ou sanha do estranho animal, ao soltar, prende na roda de traz de sua moto, fazendo com que ele se desequilibrasse, perdesse o controle, e ao sair daquela pista, acabasse adentrando no meio de uma plantação de milho, onde ele iria parar próximo a uma casinha de pau-a-pique da propriedade. E já num outro dia, Fré se vê despertando num leito de um hospital mais próximo dali. E naquela cama, ainda meio grogue, da medicação e de todo o susto, ao abrir os olhos, o mesmo se depara com uma linda jovem que o afagava enquanto lhe explicava o que aconteceu. E ao entender tudo, já bem recobrado de sua consciência, imaginando que aquela jovem era moradora da propriedade que ele invadira com sua moto, ele a agradece. Mas estranhamente a tal jovem responde também com um agradecimento, que ela o faz de uma forma bem meiga. A jovem então sai dali, quando chega o médico para atendê-lo. Este segue com os procedimentos, e logo sai, deixando Fré com um senhor com quem ele dividia aquele quarto de hospital, e que ao ouvir toda a conversa, puxa assunto dando a sua versão sobre o que pode ter acontecido com Fré. E o senhor então lhe diz que o jovem motoqueiro pode ter sido perseguido pela mula sem cabeça que rondava aquela região. Dentre outras coisas, o velho lhe conta um pouco da lenda de tal bicho, e também diz que daquele hospital, era possível se ouvir aqueles relinchos assustadores durante a noite. Fré se mantém um pouco cético, mas ao se lembrar do que passou, dentre um gemido e outro, também resolveu considerar. E é quando o médico volta, e Fré resolve perguntar pela moça que lhe salvou. O médico estranha, já que estava presente quando Fré fora resgatado, e até conhecia o senhor que o salvou. Um boiadeiro que morava sozinho na beira daquela estrada. Fré, então logo se assusta, e ao olhar para o lado, nota que havia algo parecido com um antigo freio de ferro deixado sobre o criado mudo. Ele ouviu a história do velho que estava ao seu lado naquele quarto, e que dizia dentre outras coisas, que para se quebrar o encanto da mula sem cabeça, que na verdade era uma mulher amaldiçoada transformada, era preciso retirar-lhe o freio de ferro. Fré também se lembrou de que algo se soltara daquela criatura que o perseguia, e que a linda jovem que o afagava naquele leito, também trazia consigo alguma coisa consigo.

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