O 'BLOCO DA SAUDADE'


Ainda é carnaval! E com isso a folia ainda corria solta pela cidade. Muito samba, festa e alegria tomava todo canto junto com aqueles vários blocos colocados na rua. E em um desses blocos, estava o jovem Pietro e alguns amigos na maior farra, bebendo, dançando e beijando muita boca aproveitando esse último dia de folia como se realmente 'não houvesse amanhã'! E nisso as horas se avançavam...! Mas nenhum daqueles jovens se importavam no meio daquela multidão toda que se formava neste que era um dos maiores blocos da cidade. Mas em toda essa algazarra e tumulto, Pietro acaba se afastando e se perdendo de seus amigos. E 'muito doidão', sem mesmo ver onde estava, ele acaba acompanhando um outro pequeno bloco que se formava perto dali por jovens que ele nunca tinha visto antes na região. E o animado Pietro não demora a se enturmar. Pula, brinca e também beija todas aquelas jovens desse grupo. 'Pega' alguns nomes e até sobrenomes, estranha o toque e a pele tão 'gelada' dos mesmos apesar da época de calor, mas nem liga! Já passavam das 3 da madrugada, Pietro que 'trocava suas pernas' também já se via um tanto esgotado, mas a energia daqueles jovens com quem ele pulava parecia descomunal mesmo para a juventude destes. Pietro sempre brincou por ali ou próximo, mas não conhecia ninguém daquele grupo nem mesmo de vista. Talvez deveriam ser turistas já que estes eram um tanto 'pálidos' para quem era nascido em sua cidade tão ensolarada(e pálidos até demais!). Ele pensou, mas logo também não se importou. Mas a estranheza de Pietro não parava por aí. Este também achou estranho o nome 'Bloco da Saudade', que o grupo levava, além de algumas músicas de Benito Di Paula que eram cantadas, o jeito de dançar e outras coisas também retrôs que incluíam: 'cabelos mullets', celulares imensos e marcas de roupa como: Company, Anonimato, Alternativa e Pakalolo, marcas que ele nunca ouviu falar e que nem existem mais! Mas por outro lado, ele julgou que tudo aquilo fosse parte das 'fantasias', afinal é carnaval! E quando já se aproximava o amanhecer e aquele grupo seguia para uma rua mais afastada e escura que o grogue Pietro nem sabia onde era, este é impedido por um daqueles jovens de acompanhá-los. Pietro além de não entender aquela atitude, também se intriga com uma figura que avista, um estranho 'folião' usando um longo capuz negro e que eles pareciam seguir. Mas antes que pudesse questionar qualquer coisa, este é surpreendido pelo carro onde estava os seus amigos que ao buzinar tira a sua atenção daquele grupo, fazendo com que ele os perdesse de vista ao tornar virar a cabeça para a rua para onde eles seguiam. Toda aquela pequena multidão 'sumiu misteriosamente'. Pietro ainda sem entender é carregado até o carro por um de seus amigos e em seguida levado para casa. Já na quarta-feira de cinzas, o que restava além da apuração dos votos para os desfiles, era aquela ressaca e as histórias. E nestas histórias, Pietro acaba lembrando do grupo que conhecera e de alguns nomes que conseguiu pegar ali. E mais tarde, ele ainda ainda estava pensando naquela sua 'aventura de carnaval' quando tem a terrível notícia de que um conhecido havia morrido em um trágico acidente de carro e que o enterro seria no dia seguinte. Ele, sua família e amigos vão a tal enterro que seria em um cemitério localizado numa região bem familiar a Pietro. Este cemitério era próximo de onde ele pulou carnaval com aquele bloco misterioso. E é durante o cortejo dentre todas aquelas lápides, que para o seu grande espanto, ele reconhece alguns nomes ali escritos além das fotos naqueles túmulos. E inacreditavelmente, eram alguns dos jovens com quem ele pulou carnaval. Pietro de cara se desespera ainda mais naquele enterro deixando todos sem entender. Todos aqueles jovens estariam mortos, como assim?! Ele pensa. Dias depois, recuperado do susto, ele resolve pesquisar na administração do cemitério, na internet e até procurando algumas das famílias daqueles falecidos. E a constatação trágica e macabra foi essa mesmo. Aquele bloco que ele acompanhara era formado por jovens mortos tragicamente em diferentes carnavais e coincidentemente todos estavam enterrados ali naquele cemitério que ficava na rua a qual Pietro fora impedido de acompanhá-los. Isso também explicava aquelas cicatrizes horríveis que algumas daquelas garotas possuíam e que Pietro ficou sem jeito de comentar. Também na ocasião devido a sua certa embriaguez e a escuridão daquela rua, o mesmo não conseguiu identificá-la como sendo a mesma do cemitério. E quanto aquela misteriosa e sinistra figura encapuzada que os jovens acompanhava, se tratava da 'morte', ou de um 'ceifeiro' e não de mais um folião fantasiado como ele julgou na hora.

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