PALAVRÕES NA QUARESMA


As cidadezinhas de interior onde comumente se localizam as chamadas 'roças', além de suas belezas e encantos naturais provenientes de seu pacato e acolhedor aspecto bucólico e pastoril, também são cheias de lendas e mistérios que para alguns 'urbanóides' como o jovem Ricardo ou 'Riquinho' como era carinhosamente chamado por seus avós maternos que ali residiam, não passavam de 'crendices'. Nas férias, este sempre seguia para o sítio desses avós,  e lá junto com o seu primo Juarês, a diversão era total por aqueles pastos e estâncias. Como todo jovem, Riquinho também tinha o seu 'espírito de aventura'. E foi com esse espírito que naquele dia ele resolvera explorar ou 'fazer trilha' de uma forma 'improvisada' ao lado desse primo pelas cercanias daquele  sítio. Muito recomendados pelos seus avós sobre os perigos que existiam por ali, como cobras e outros bichos que pudessem atacá-los, os dois, confiantes, não davam muita atenção para tais conselhos. E como era uma época de Quaresma, os conselhos foram mais reforçados ainda, já que o povo daquela região conhecia as lendas que envolviam tal época naquele lugarejo. E quando os velhos avós de Riquinho e Juarês lhes alertou para que voltassem antes do anoitecer. Riquinho não se conteve em gargalhadas ao saber por qual seria o motivo de tal apressado retorno. Coisas como lobisomens, mulas sem cabeça e até o simpático e conhecido moleque Saci, foram citadas por aquele casal de idosos. A dupla sob os risos de Riquinho saiu dali sem se importar com tal 'fantástica' recomendação. Mas dos dois, Juarês que morava em uma cidadezinha próxima e que também acreditava em tais lendas, não achou muito engraçado aquela recomendação, e no caminho para tal trilha, pediu até para que o primo urbanóide levasse mais a sério o que os velhos falavam. Mas Riquinho não queria nem saber. Achava aquilo tudo uma bobagem e até 'tachava' os seus avós pelos mesmos acreditarem naquelas coisas. Riquinho também era desbocado. E com isso com qualquer pisada em buraco ou 'tropicão' que desse em algum galho que topasse naquele caminho de chão batido, soltava o mais pesado palavrão. Outra coisa que também deixava Juarês temeroso já que por ali também se acreditava que dizer palavrões durante a época de Quaresma poderia 'atrair coisas ruins'. E com isso, mais risos, o debochado Riquinho soltava. A caminhada seguia e além de mais afastados do sítio, mais tarde ia ficando. Riquinho sempre incrédulo, também confiava em Juarês como guia já que este por morar próximo aquela cidadezinha conheceria mais o local. Mas no meio daquela pradaria e árvores das mais variadas pelas quais iam passando à beira do caminho, além de suspeitos 'agitar de matos e arbustos' e cantos que pareciam de corujas e bichos que o urbanóide Riquinho não conseguia identificar, o temor de seu 'guia', Juarês também já começava a deixá-lo desconfortável. E assim o primo descrente dispara: - Ô seu cagão da porra...guia de merda, vai tomar no cu...se eu soubesse, pediria ao próprio capeta para me fazer companhia...ha ha ha! Juarês o repreende mais uma vez por aquelas maledicências e blasfêmias, mas desta vez algo começa a dar sinal no fundo de uma grota próxima a trilha onde os dois estavam. Um ser, um vulto negro de uma criatura de aparência inexplicável e assustadora saía dali seguindo na direção dos dois, mais precisamente de Riquinho, o incrédulo. E estes na mesma hora saíram correndo apavorados dali.  Já estava bem escuro e também por isso não dava para identificar o que era 'aquilo' que perseguia muito mais Riquinho que no pouco de coragem que tinha para olhar para atrás, também notava que o tal ser 'aumentava de tamanho'. Até que ao chegarem próximo a uma cruz que existia fincada à beira daquela estrada de terra próxima ao sítio, e que os moradores da região chamavam de 'cruzeiro', a tal criatura desiste de seguir os dois, ou melhor, Riquinho. E quando a dupla, ofegante,  já está de volta à chácara dos avós, eles contam a história para os velhos que desta vez riem e dizem que era por isso que eles os recomendaram tanto. E na manhã seguinte de uma noite que Riquinho não dormiu, este voltou às pressas para a cidade grande pensando até mesmo entrar em uma 'penitência de Quaresma' tamanho o seu assombroso trauma.   

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