Aproveitando um de seus raros momentos de folga, o dekassegui Aparício Yamamura, resolve ir visitar seus primos que moram na região de Yamanashi-ken, uma cidadezinha próxima à cidade onde ele residia e trabalhava no Japão. Era o que ele fazia de costume e o que distraía da saudade que sentia de sua família que deixou no interior de São Paulo em busca do sonho de uma melhor oportunidade de emprego. Além de toda confraternização e alegria daquela reunião com seus parentes orientais, Aparício ou 'Yurei-chan' como era apelidado por seus primos mais velhos, adorava ouvir aquelas histórias e lendas de terror sobre uma sombria floresta que existia naquela região. 'Aokigahara', a famosa ou famigerada 'floresta dos suicidas'. Existia até mesmo um certo tabu por parte daqueles seus parentes ao falar a respeito, de tão sinistra que eram as lendas que envolviam tão pavoroso local. Mas para Yurei-chan, tudo aquilo era muito instigante para o seu 'espírito aventureiro' de dekassegui. Todos acomodados em suas almofadas em volta daquela 'Irori'(lareira afundada) se impressionavam ou se apavoravam com as histórias daquela tia anciã de Aparício que ao contrário dos demais, se empolgava e queria ouvir mais e mais daquelas histórias arrepiantes acerca daquela floresta sinistra. E assim, sem conseguir tirar aquelas histórias da cabeça. Impulsionado por esse seu ávido espírito aventureiro somado a uma curiosidade quase infantil, Yurei-chan resolve convencer(com muito custo) um de seus primos a acompanhá-lo no desbravamento daquela floresta tão macabra. Eles partiriam no dia seguinte, munidos com os equipamentos necessários que incluíam mochilas, facões, cantis, lanternas, bússolas e etcetera... Yurei teve a louca ideia de improvisar um 'trekking' em meio aquela lúgubre vegetação. Estava tudo certo para os dois seguirem, mas 'na hora H', o primo escalado por Yurei-chan para acompanha-lo. Mal entrando naquela floresta assustadora. Diante daquela paisagem aterradora formada por árvores e até uma neblina bem inesperada para a estação que era verão, o mesmo primo que fatalmente também havia se lembrado das histórias e lendas sobre os fantasmas, 'onis' e outros entes fantásticos que pudessem existir ali dentro, desistiu de acompanhar Yurei, que após zombar do mesmo, não se importou e seguiu com sua aventura assim mesmo, deixando para atrás o primo assustado e um tanto preocupado com aquela 'loucura disfarçada de coragem' do seu primo brasileiro. E já dentro de Aokigahara, Yurei-chan já não ouvia mais os distantes gritos de apelo do primo oriental. E as vozes de seus outros parentes 'em sua cabeça' pedindo para que ele desistisse de tal ideia, também se dissiparam dando lugar a uma sede de aventura que mais o empurrava para dentro daquele arvoredo assombroso. Yurei-chan resolve usar o celular para registrar sua aventura arrepiante. E ele filma tudo com o aparelho que também lhe servia de lanterna. Não era tão tarde quando eles partiram para ali. Mas aquele aspecto sombrio daquela floresta, além daquelas brumas que cobriam a vegetação dava a impressão de que já era 'noite'. E aquele clima apesar de bucólico como o de qualquer floresta, era bem pesado. Uma estranha 'melancolia' somada a uma energia pesada que carregava aquele ar junto com toda aquela neblina que logo fez com que Yurei-chan, apesar de aventureiro, não conseguisse conter alguns arrepios, calafrios e até alguns sustos que acabava levando com qualquer movimento estranho que notasse em meio a toda aquela paisagem tão tétrica. Seu 'canto de olho' já começava a lhe pregar peças com vultos que já surgiam. Corujas e outros sons parecidos com agonizantes 'gemidos' que ele tentava se convencer de quem vinham da 'madeira' de alguma árvore podre, também já começavam a lhe assombrar. Até que ele leva mais um susto ao se deparar com uma corda com laço pendurada em uma daquelas árvores medonhas.'Com certeza algum suicida usara aquilo para dar cabo da sua infeliz vida'... ele pensa enquanto um tanto consternado pega aquela corda. Mas onde ele estava agora?! Ele perdeu a noção, não só de espaço, mas também de tempo. Seu celular, sua bússola e a lanterna extra estranhamente já o deixavam na mão. E aquele cheiro de podre... Yurei-chan também começava a se lembrar da possibilidade de encontrar um cadáver de algum desses suicidas por ali... ou até mesmo alguma 'alma penada' de algum infeliz desse! Ele começava a sentir estar pisando em grande 'volumes' que não sabia identificar por causa da escuridão, mas com todo aquele volume e aquele barulho que pareciam com o de 'estalar de ossos', sua imaginação de pronto lhe fez acreditar que seriam cadáveres, que além de 'gemerem' enquanto ele os pisava, até a mão de alguns desses 'mortos-vivos', ele também sentia tentando agarrar o seu pé. Seu espírito de aventura logo também o abandonou. E Yurei-chan ao tentar inutilmente 'ferir' com o facão que levava, aqueles vultos que também volteavam sua cabeça, não pensa duas vezes em sair correndo dali procurando pela saída daquela floresta terrível. Mas ele também se via perdido naquele 'labirinto vegetal' que Aokigahara se transformou. E só os gemidos ou gritos agonizantes daquelas almas penadas o acompanhava agora! Ele tenta também inutilmente se livrar daqueles assombros se agachando e pondo as mãos no ouvido, próximo a alguma daquelas árvores tétricas e que também pareciam possuir 'feições' e das mais assustadoras. E é quando ele avista uma pequena multidão que se formava em volta de algo. Feliz, ele corre até lá para pedir ajuda. Mas ao se aproximar daquilo que parecia um grupo de busca acompanhado por alguns populares e jornalistas e até seu primo, Yurei-chan se vê 'ignorado' por todos, até mesmo o seu primo. Ele falava e até 'cutucava' seu primo e outras daquelas pessoas, mas ninguém o notava. Até que ele consegue ver e se assustar com 'aquilo' que eles estavam em volta. Aquele era o seu corpo já se decompondo por estar estirado ali há dias. Yurei-Chan ou Aparício, havia se matado com o facão que levava para fazer aquele irresponsável trekking naquela floresta que ao invés de turistas ou 'trilheiros de plantão' na verdade pertencia aos suicidas como dizia a placa na entrada e que muito mais que orientar ou 'desmotivar' quem quisesse adentrar a mesma com tão funesto motivo, também servia para desencorajar aventureiros irresponsáveis como esse jovem antes um ávido aventureiro dekassegui e agora também mais um infeliz suicida para fazer parte da tão macabra lista de lendas assustadoras acerca daquela floresta sombria.
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