Os bate-bolas! Ou 'Clóvis'. São conhecidos personagens da cultura e carnaval carioca. Qual criança nunca se apavorou ao se deparar com essas 'criaturas' ou esses indivíduos tão assustadores com aquelas suas barulhentas 'bexigas' ou apitos ecoando pelas ruas de seus bairros. Mas ao contrário das outras crianças, Paulinho junto de seus primos, não se assustava, e pelo contrário, até provocavam o grupo de bate-bolas daquela localidade. -'Bate-bola/Bate pé/tira a roupa da mulher...!' Junto de seus primos, cantava Paulinho que dizia não ter nenhum medo desses mascarados. Até aquele carnaval(...) Paulinho costumava ir para casa desses seus primos num outro bairro da cidade. Apesar de ser algo cultural no Rio de Janeiro, muitos bairros haviam abandonado esse costume. E tanto o bairro onde Paulinho morava, quanto o de seus primos estavam inclusos nesse abandono da tradição de se sair de bate-bola. Mas quando se soube que alguns jovens daquele outro bairro estavam tornando a sair, Paulinho se empolgara ainda mais com aquele passeio. E lá já estava Paulinho, que junto com seus dois primos, espreitavam um grupo de jovens bate-bolas da região, que sempre se reuniam na esquina da casa dos tios de Paulinho. Os três garotos se escondiam atrás de carros estacionados ou lixeiras que se encontravam pela calçada. E assim que viam a chance de zoar o grupo de mascarados, os mesmos não 'perdoavam'. E eles cantavam desde a cantiga 'Bate-bola bate pé', e até mesmo se aproximavam dos mascarados, levantando as fantasias dos mesmo, e até com uma daquelas sombrinhas que eles carregavam, um dos primos de Paulinho, conseguira carregar, mas acabara a abandonando pelo caminho em quanto corria dos mascarados até a sua casa onde se escondia com os demais. E nos dias e noites que seguiram daquele carnaval, Paulinho e seus primos não paravam com sua 'caça aos Clóvis', mas sempre fugindo dos mesmos, é claro! Mas algo naquele grupo de bate-bolas, intrigava muito Paulinho. O grupo era formado por seis mascarados, porém, um deles, que era o mais diferente, e que ao contrário dos demais, portava uma bexiga ao invés de sombrinha, se mantinha, um tanto destacado; e aquela máscara pavorosa e tão realista de caveira...? E este Clóvis era o único que não corria atrás dos garotos, e sempre se mantinha na mesma posição naquela esquina, e também parecia não interagir com o seu bando. Quando a caça aos bate-bolas cessava. No quarto da casa de dois andares dos seus tios, Paulinho, durante a noite, se mantinha olhando para aquela esquina, onde nem sempre avistava o todo o bando de bate-bolas, mas aquele estranho bate-bola destacado ainda se mantinha parado naquele exato lugar. Durante a madrugada, o sono de Paulinho naquele quarto que dividia com os seus primos, era interrompido por aquela única bexiga que batia bem forte no chão da rua, e também por um solitário apito. Seria aquele bate-bola estranho? Ele pensava, mas ao seguir para olhar na janela, não via ninguém naquela rua deserta. E quando amanhece, é sábado de carnaval. E depois do café da manhã, e de muitas brincadeiras com os primos, Paulinho segue junto com eles e sua tia para um mercadinho próximo. E algazarra dos quatro continuava, mesmo com as reprimendas da tia. E também pelo caminho, Paulinho ainda ouvia, 'longe', o forte bater daquela bexiga vindo de alguma daquelas ruas, e que ele, intrigado, já podia imaginar, quem poderia ser aquele bate-bola que estava fazendo tal barulho. E já no interior do mercadinho, toda aquela bagunça dos quatro primos, acaba interrompida, pelo ainda intrigado Paulinho, que tenha a cisma de que eles estariam sendo perseguidos ou espreitados por alguém. Em alguns momentos, ele até 'deixava pra lá' tal desconfiança. Até que em certo momento, o mesmo teve a impressão de notar alguém que parecia 'fantasiado', por detrás de uma daquelas gôndolas o observando, e quando este 'seja lá quem for', notou que fora percebido, rapidamente se escondera por ali. Paulinho se assusta, mas logo volta a si, ao ser puxado por sua tia, que chega a lhe perguntar o que houve, mas o garoto ainda atônito resolve responder que não foi nada. E pouco depois, já na casa dos tios, Paulinho, ainda assustado, nem participa muito das bagunças que os primos seguiam fazendo. Eles têm a ideia de mais uma vez sair a caça de bate-bolas, mas Paulinho apesar de gostar dessa zoação, preferira não ir, ficando em casa, de onde do quarto dos primos, além de avistar da janela os mesmos provocando os bate-bolas lá em baixo na rua, também mais uma vez vira aquele Clóvis destacado, e em pé no mesmo exato lugar. E já à noite, os tios de Paulinho estavam reunidos na sala esperando a Escola de Samba que torcem desfilar na TV. Paulinho também está na sala onde brincava com os primos. E quando mais uma vez aquela estrondosa bexiga é ouvida bater na rua, os tios de Paulinho comentam a respeito falando do motivo que levou os bate-bolas pararem de sair nos outros carnavais. Há algum tempo atrás, o grupo de bate-bolas local, tinha uma rixa antiga com um grupo de bate-bolas de um bairro próximo. E dessa rixa, um dos jovens, antigo morador da região, e o mais briguento do bando acabou fatalmente vitimado durante uma briga. Nesse dia de carnaval, onde Paulinho se encontrava na casa dos tios, fazia exatamente 15 anos do acontecido. Paulinho que nem era nascido, parou a brincadeira com os primos, para ouvir o comentário dos tios, que também o deixou ainda mais cismado. A bexiga na rua bate no chão de novo. Paulinho se assusta. E todos os presentes riem dele. E quando chega a hora de se recolher. E além de pesadelos recorrentes desde que a primeira vez que vira aquele bate-bola, Paulinho não conseguia pregar os olhos no quarto dos primos. E não resistindo a curiosidade, resolve olhar mais uma vez para aquela esquina, da janela do quarto. E lá estava aquele bate-bola. E dessa vez parado no meio da rua. Paulinho estranha, e não para de olhar. E é quando um caminhão numa certa velocidade passa no exato momento. Mas o bate-bola estranhamente não sai da rua. E para surpresa e ainda maior pavor de Paulinho, aquele veículo de grande porte, simplesmente pareceu 'transpassar' o corpo daquela figura que ainda se manteve ali do mesmo jeito após o caminhão inacreditavelmente 'atravessá-lo' naquela pista. Paulinho com o susto, cai para atrás, e logo entra em pânico acordando todos na casa. Gaguejando e aos soluços, ele aos choros tenta explicar o que vira. Mas ninguém acreditou. os tios de Paulinho tentaram acalmar como puderam o garoto, que preferiu até ir dormir com eles. Os tios concordam, mas o garoto não pregou os olhos. No dia seguinte, ele que estava combinado de ficar ali até a quarta-feira de cinzas, resolveu ir embora naquele domingo de carnaval mesmo. E já no ponto de ônibus, ao ser embarcado pelos tios, o garoto se aproxima da janela do banco de trás para acenar para ele e os primos que ficaram no ponto. E para mais espanto dele, lá estava aquele bate-bola sinistro, também acenando para ele, no meio de seus familiares.
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